sábado, 22 de dezembro de 2012
Queridos amigos!
Que neste período tenhamos uma pausa para refletir sobre nossos valores e possamos recarregar nossas baterias em busca de nossos sonhos...
"Uma vida sem sonhos é como jardim sem flor".
Desejo-lhes um ano de 2013 de muito estudo, leitura, reflexões, e cheio de dúvidas, porque elas são as portas abertas para a complexidade das idéias.( idéias,(re)-conceitos, opiniões,...,sejam elas a favor ou contrárias as nossas, são sempre bem-vindas! )
Feliz Natal!
E próspero ano novo!
Com carinho,
Carla Castro
Meu Projeto apresentado para o CEP-RUA
FEDERAL
DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO
DE PSICOLOGIA DA UFRGS
CURSO
CEP - RUA
CARLA
CASTRO
PROJETO
DE PESQUISA
DUAS TURMAS DE SEGUNDO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL, DA REDE
PÚBLICA ESTADUAL DE ENSINO E AS LINGUAGENS GERADORAS.
Porto
Alegre, 2012
SUMÁRIO
1 Introdução
Neste
trabalho foram observadas duas turmas de segundos anos do ensino fundamental da
rede pública estadual de ensino, em Porto Alegre – R.S. E algumas questões do
ensino-aprendizagem baseadas nas linguagens geradoras aplicadas à realidade dessas
duas turmas de segundos anos, do ensino fundamental. No transcorrer do
trabalho, foram investigadas as turmas de segundo ano do ensino fundamental, e
melhores soluções para atender a esse público que tem uma grande diversidade de
problemas, são tão acentuados e completamente sem assistência de serviços
especializados. Um dos motivos que ocasionou a busca por cursos de formação que
me proporcionasse formação para trabalhar com uma realidade assim. E o estudo
se intensificou conforme a sondagem da realidade das turmas foi ficando clara.
Ingressei no curso proporcionado pelo Instituto de Psicologia/UFRGS, CEP-RUA, e
comecei a estudar as linguagens geradoras. A realidade é composta por crianças
com deficiência, crianças com problemas familiares, violentadas sexualmente,
agredidas das mais diversas formas, algumas implicações do processo das
linguagens geradoras na alfabetização de crianças oriundas de famílias com
formação e estruturação satisfatórias para o desenvolvimento de uma criança e
as crianças sem estruturação familiar, sem condições básicas de
desenvolvimento, para isso se faz necessário que todos os alunos das turmas 20 e
22 sejam pesquisados de forma mais profunda do que em observações, conversas e
relatos de experiências. A oportunidade de ensino, era a mesma, a turma 20
frequenta a Escola Estadual de Ensino Médio Rafaela Remião no turno da manhã e
a turma 22 no turno da tarde, as diferenças nos níveis de aproveitamento e no
desenvolvimento do ensino-aprendizagem foram muito notórias, logo, foram
investigadas com mais atenção cada aluno, e sua história individual, porque é
objetivo primordial que todos se desenvolvam, aprendam a ler, escrever, e
tenham acesso a educação básica como consta na
legislação.
Trabalho
com um público completamente excluído de tudo, atendimento especializado,
assim, eu precisava fazer com que a minha aula acontecesse. A turma 20, não
escutava, não sabia elaborar regras de convivência e segui-las, não admitia se
quer uso de material concreto, porque utilizavam de formas violentas, para
agredirem-se, provocar guerras, quebradeiras, enfim a partir dos
esclarecimentos que fui obtendo nos encontros no CEP-RUA, formas de conciliar,
abordar, conversar, eu fui estudando paralelamente as Linguagens geradoras e as
introduzindo. Eles foram acalmando, e as aulas foram começando a acontecer de
formas mais produtivas e eficientes para o processo de ensino-aprendizagem.
Mudou muita coisa dentro da sala de aula, regras de convivência e rotina são
cada vez mais marcantes, a organização, e principalmente as conversas. Leituras
de histórias foram estimulando que eles ouvissem, eles não paravam para
escutar. Hora da explicação não tinha significado algum para eles. Nas leituras
de linguagens geradoras ficam claras as observações, que devemos conhecer os
nossos alunos, e que eles estão fazendo a leitura deles sobre nós professores,
o professor que se apresenta à eles todo dia. Mudei minha forma de me
apresentar e me mostra para eles porque comecei a ser o mais espontânea
possível, para que o exemplo que eles tivessem de mim fosse cada vez maior de
honestidade, de transparência, de sinceridade, minha linguagem é comum, falo gírias,
brinco, abraço, beijo, porque as vezes só vão ser abraçados, beijados e
olhados, face to face, na escola.
Conto que
eu estudo, busco aprender para fazer o melhor não só por mim, que cada vez meu
trabalho seja melhor, mas que eles sejam cada vez melhores para eles. Mostro
que me importo com todos e desejo uma vida melhor para todos. Falo que tudo é
possível quando se estuda, porque a educação é transformadora, assim como
transformou minha ação pedagógico, pode transformar cada vez mais a vida deles.
E que podem ter futuros promissores. E
tudo está acontecendo ao mesmo tempo na vida deles, aprendendo a ler, se
organizando, tendo reconhecimento como cidadãos, moram em zonas completamente
afastadas, o DMAE está regularizando as casa, e distribuição de água encanada,
porque o acesso era por mangueiras que corriam paralelas aos valos de esgoto, a
iluminação pública está sendo melhorada e ampliada na sua rede de energia. Numa
tarde encontrei dois carteiros, que estavam começando a distribuição de contas
de energia elétrica, ou seja, eles terão endereço, comprovante de residência,
água, luz, a escola está indo visitá-los, é a integração e a inclusão social de
duas turmas de ensino fundamental, desta região, sendo comprovada nesta
pesquisa. É o resgate de alguns cidadãos que estão sendo incluídos socialmente.
2
Justificativa
Num
contexto completamente hostil, composto por crianças tão diversificadas na
forma de agir e interesses, o desafio foi estudá-las e buscar ajuda de órgãos
como o Instituto de Psicologia da UFRGS para
instrumentalizar a minha ação pedagógica e o meu fazer docente com mais
qualidade e eficácia. Trabalhar numa realidade tão dura, crianças que caminham
quilometros até a escola, e chegam sem alimentação, que sofreram violência
doméstica, abusos sexuais, deficientes sem diagnósticos médicos, alunos que são
ensinados e estimulados pelos próprios pais a praticarem pequenos furtos, para
entregarem-lhes os objetos furtados, e assim e os pais poderem adquirir drogas.
Uma triste realidade que não pode continuar sendo excluída, esses alunos não
podem permanecer apenas como itens que elevam os índices de analfabetismo e
fracasso do ensino básico. Por isso é de suma importância a pesquisa
apresentada, ela é resultante não só de uma formação continuada, afim de
informar, formar e preparar os profissionais para enfrentarem essa dura
realidade, a formação recebida pelo CEP -RUA é capacitadora para que tenhamos
não só outro olhar, mas informações e conhecimentos básicos necessários para
que saíbamos como proceder, bem como ações transformadoras. E ir além, o
projeto de pesquisa que está sendo apresentado aqui, será um dos resultados
positivos, do curso que tenho frequentado durante todo esse período no
Instituto de Psicologia da UFRGS/ CEP-RUA. A formação recebida foi dentro do
Instituto, a pesquisa aqui proposta já está nas ruas realizando pesquisa
sócioantropologica, fazendo levantamentos de acordo com o cronograma, já está
com resultados positivos para com esses alunos dentro da sala de aula, já
apresenta gráficos com números positivos de alunos com bom rendimento escolar,
bom desenvolvimento da leitura e escrita, além de maior socialização.
As
linguagens geradoras tem sua relevância no ensino, por ser um processo
humanizador, onde o Ser se torna mais importante do que o mero aprender, e
posterior a essa valorização e reconhecimento de um meio favorável por parte
dos alunos e envolvidos, o ambiente vai se construindo se transformando, sendo
mais acolhedor para todos os integrantes da escola. Obteve-se sucesso no
aprendizado inclusive junto aos alunos especiais que se encontram às margens da
sociedade num processo de inclusão, porque esses alunos especiais, na prática
não têm professores acompanhados por monitores e profissionais especializados
para atendê-los como previsto em lei, e o devido respeito e a dignidade na
prática, eu trabalhei durante todo o ano com alunos especiais sem apoiadores,
sem monitores, e com alunos com problemas, sem diagnósticos médicos, inúmeras
vezes solicitei encaminhamento para orientadora educacional da instituição de
ensino onde trabalho.
Com as
linguagens geradoras, vão estimular os diálogos, entendimento, respeito, o
cumprimento das combinações elaboradas pelo grupo, desde o início dos
trabalhos.
Com isso
objetiva-se com este trabalho analisar as linguagens geradoras definidas por
Gabriel de Andrade Junqueira Filho, e sua aplicabilidade no cotidiano escolar
no ensino fundamental na escola em que leciono. Para responder a esse objetivo,
surge a seguinte pergunta: As linguagens geradoras se aplicam a todo e qualquer
aluno e qual sua relevância?
2.1 LINGUAGENS GERADORAS
Pierce
construiu uma definição de Signo em que se expõem os elementos que o formam,
onde entram as categorias, e mostra que se trata de algo em constante evolução.
Um
signo é tudo aquilo que está relacionado com uma Segunda coisa, seu Objeto, com
respeito a uma Qualidade, e modo tal a trazer uma Terceira coisa, seu
Interpretante, para uma relação com o mesmo Objeto, e de modo tal a trazer uma
Quarta para uma relação com aquele Objeto na mesma fórmula (PEIRCE, 1995 p.
28).
Peirce
(1995) defende que é preciso existir um Objeto para que haja um Signo, podendo
ser um Objeto perceptível, ou apenas imaginável, ou mesmo inimaginável, um
Signo deve ser algo distinto de seu Objeto, abrindo uma exceção para o caso em
que um Signo é parte de um Signo (p. 46).
O
professor pode ser lido a partir dos mais diferentes modos nos quais se mostra
essa produção de signos em si por seus sujeitos leitores, o professor, como
sujeito leitor e objeto de conhecimento de si mesmo.
A partir
dessa produção feita pelos alunos de diferentes signos-linguagens sobre o
professor, ele se transmite a eles, isso vai se tornando objeto do conhecimento
para os alunos. Isto porque o professor
também é linguagem. Através da leitura e entendimento de sentido, se caracterizam
os seres humanos como seres simbólicos, entendo aqui o professor com linguagem.
Segundo
Peirce (1995), cada linguagem tem estrutura e regras próprias de funcionamento.
O professor quando se apropria suas regras de funcionamento em uma sala de
aula, apropria-se dessas regras, vivenciando-as e refletindo sobre elas,
produzindo à sua maneira e reinventá-las com seu estilo de ser professor. Assim, cada professor – como ser social e
singular – pode ser lido como linguagem, “porque pode ser aprendido – objeto de
conhecimento que é – na sua relação com a produção de si por si mesmo”
(JUNQUEIRA FILHO, 2006, p. 72).
O
professor visto como objeto de conhecimento de seus alunos torna-se objeto de
desejo, porque os alunos buscam o objeto de conhecimento, porque estão em sala
de aula para aprender e decifrar signos, leituras, enfim, conhecer o conteúdo.
Isso pode ser visto na seguinte passagem:
[...]
Conteúdos-objetos de conhecimento-linguagem de si, para si. Conteúdos-objetos
de conhecimento-linguagem dos outros, para os outros. Conteúdos-objetos de
conhecimento-linguagem a serem investigados e articulados dia-a-dia, sempre
mais um pouquinho, nos múltiplos, diferentes, prioritários e complexos aspectos
que os constituem – por si mesmos e uns pelos outros (JUNQUEIRA FILHO, 2005, p.
25).
Esses
sujeitos-leitores e objetos de conhecimento-linguagens por si mesmos e uns
pelos outros – que são os professores e alunos – são conteúdo.
O
professor ao percebe-se como conteúdo-linguagem-objeto de conhecimento para
seus alunos, deve estar consciente.
Saber-se
observado-lido-ouvido, como professor, é fundamental para aprender-se,
olhar-se, ouvir-se, ler-se e aprender o outro [...]. Aprender olhar-ouvir-ler
seus alunos – e saber-se aprendido-olhado-ouvido-lido pro eles – incorpora a
perspectiva de saber-se olhado-ouvido-lido por quem quer que seja, e saber-se
olhado-ouvido-lendo quem quer que seja (JUNQUEIRA FILHO, 2006, p. 74).
Para que
esse conhecimento se concretize o professor Junqueira Filho criou as linguagens
geradoras, que se desenvolvem através do diálogo entre professor e aluno –
sujeitos-leitores e objeto-linguagem um do outro.
A proposta
das linguagens geradoras seria uma alternativa e uma possibilidade neste
sentido, servem de instrumento para o professor para identificar, através das
leituras-articulações que produz sobre as interações das crianças com
diferentes linguagens, os conteúdos – temas, assuntos, interesses,
necessidades, desejos, dificuldades, faltas, sobras que fazem parte da vida de
cada grupo de criança, para os quais o professor organizará projetos de
trabalho.
Em seu
estudo Linguagens-Geradoras – uma proposta de seleção e articulação de
conteúdos em educação infantil, Junqueira Filho recomenda que os objetos de
conhecimento extraídos das áreas de conhecimento, da produção científica, na
educação das crianças, sirvam para buscar também na vida cotidiana e na cultura
das crianças os conteúdos para sua educação.
Na
expressão de Peirce (1995) “o que existe insiste, Junqueira Filho explica,
referindo-se às linguagens geradoras “o que insiste nas diversas produções das
crianças existe como significativo na vida delas, por isso, precisa ser
identificado e explorado de maneira sistematizada junto a elas pelo professor.
O que insiste é justamente aquilo que as crianças
querem-porque-precisam-saber”.
A proposta
das linguagens geradoras é uma estratégia utilizada pelo professor e seus
alunos para identificar os conteúdos programáticos mais significativos da vida
do grupo de crianças que estão sob sua responsabilidade, sendo estes atores os
sujeitos-leitores e objetos de conhecimento-linguagem uns dos outros, são
interlocutores-em-diálogo uns dos e com os outros, produzindo, juntos, o
conhecimento.
Na
proposta das linguagens geradoras o professor é também conteúdo programático –
para si e para seus alunos – na medida em que está se produzindo – e sendo
produzido – como professor, interagindo nas múltiplas linguagens que compõem
seu plano de trabalho, ao mesmo tempo está sendo lido como objeto de
conhecimento-linguagem pelos seus alunos, através das quais é desvelado aos
seus alunos. As crianças também são para
seus professores, conteúdos – objetos de conhecimento-linguagem – a serem
desvendados, aprendidos, através de um processo de conhecimento onde ocorrem as
trocas e convivências diárias entre as duas partes, através de
leituras-articulações entre as duas partes.
Para
melhor entender a individualização dos caminhos para a aprendizagem dialogada, Junqueira
Filho, identifica dois momentos fundamentais no planejamento/avaliação do
professor, o qual denominou “parte cheia” e “parte vazia”.
Na
primeira fase do planejamento - na parte cheia -, antes mesmo de conhecer
pessoalmente as crianças, a professora deve decidir que linguagens selecionará
para compor a rotina com a qual vai guiá-las, não esquecendo que uma das
escolhas será a forma como ela se apresentará às crianças. Na parte cheia
entram os conteúdos selecionados a partir dos saberes docentes, dos elementos
da formação do professor, de sua trajetória, que darão sustentação ao seu plano
de ação destinado a uma turma que ainda não conhece.
A segunda
parte do planejamento, nominou “parte vazia”, fica em aberto, esta será
preenchida ao longo do ano, no cotidiano da professora com as crianças. A “parte vazia”, refere-se aos conteúdos
selecionados e articulados a partir da interação com a classe, da observação e
reconhecimento das diferentes linguagens através das quais expressam seus
interesses, curiosidades e necessidades.
No sentido
das duas fases do planejamento, Junqueira Filho (2001, p. 26) explica que
os
temas-assuntos-conteúdos-linguagens, identificados no processo de produção da
parte vazia do planejamento, selecionados por entre um grupo de crianças e sua
professora, dizem respeito ao contexto de produção daquele grupo de crianças e
sua professora. Por isso, ainda que não exclusivos desse grupo, são singulares,
intransferíveis; não podem, por exemplo, ser estendidos, aplicados, recomendados
indiscriminadamente a todas as crianças daquela faixa-etária.
Assim,
nenhum aluno vivenciará as mesmas experiências de aprendizagem de outro grupo
de alunos e aquilo que por eles foi construído no sentido de seus interesses e
desejos de aprendizagem.
Uma vez
identificadas as “partes vazias e cheias”, cabe ao professor colocar em prática
suas hipóteses em sala de aula, através de projetos de trabalho para ver se
dará certo, ou se terá que modificar seu plano.
Junqueira
Filho, ao se referir a segunda fase de seleção e articulação de conteúdos
proposta pelas linguagens geradoras, desfia o professor a organizar-se, a ler
atentamente seus alunos em seus processos de produção de si e do mundo, a
partir das escolhas-linguagens que ele mesmo fez para seus alunos na parte cheia do
planejamento/avaliação.
As
escolhas-linguagens da parte cheia do planejamento/avaliação são exemplificadas
as possibilidades e articulação de conteúdos em educação infantil por Junqueira
Filho, entre as quais:
- adaptação: construção de vínculo com a professora, as
crianças, seus familiares e profissionais da escola;
- leitura-diagnóstico de necessidades (dificuldades,
resistências, faltas, sobras) e demandas (interesses, curiosidades das
crianças);
- apresentação de propostas novas, atendendo ao diagnóstico
realizado;
- (re)organização do espaço físico da sala de aula;
- questões relativas à (in)disciplina: desentendimentos,
brigas, disputas, conflitos entre as crianças e em relação à professora;
- organização de regras e combinados visando à qualidade de
vida do grupo;
- rodas de conversa com objetivos distintos: para conversar
sobre a vida fora da escola, sobre conflitos do grupo, sobre interesses comuns
do grupo, sobre conteúdos-linguagens específicos selecionados pela professora
na parte cheia, sobre conteúdos-linguagens relativos à parte vazia do
planejamento;
- (re)organização da rotina;
- (re)organização dos momentos de higiene;
- (re)organização dos momentos de alimentação: café,
lanches, almoço, jantar;
- jogo simbólico: em sala, no pátio;
- histórias infantis: escolhidas e contadas pela professora,
escolhidas e contadas pelas crianças, inventadas pelas crianças/produção de
livros: individuais e coletivos, entre outros.
É
importante salientar, na segunda fase do processo de planejamento proposto, que
o “professor não é tido como a única fonte de seleção, nem tampouco o único
sujeito a articular os conteúdos que compõem a proposta pedagógica, e sim,
apenas um dos sujeitos-leitores e objetos de conhecimento-linguagem que, em diálogo
com as crianças – os outros sujeitos-leitores e objetos de
conhecimento-linguagem desta relação, vão produzindo – e produzindo-se –n(estas
seleções e articulações”.
A
partir da interação entre a professora e seus alunos com os conteúdos da parte
cheia do planejamento, a professora identificará os
assuntos-conteúdos-linguagens que vão dar origem aos projetos que vão compor a
parte vazia do planejamento (JUNQUEIRA FILHO - slides).
O autor
Junqueira Filho apresenta pistas baseadas no olhar-escuta-leitura-diálogo, na
perspectiva das linguagens geradoras para coordenar o processo de prática
escolar, utilizando fatos, fenômenos, eventos, instituições–linguagens:
Primeira
pista: o jeito como cada criança vai produzindo ao interagir com as múltiplas e
diferentes linguagens selecionadas e articuladas pelo professor na “parte cheia” do planejamento/avaliação,
no cotidiano da vida do grupo.
Segunda
pista: as produções concretas, os documentos que vão registrando, indicando e
revelando os processos de autoconstituição das crianças, produzidos por elas ao
interagirem com as diferentes linguagens selecionadas pelo professor na parte
cheia do planejamento/avaliação.
As
linguagens geradoras são apresentadas de forma didática e desafiadora para
inovações no ensino, tanto para os professores quanto para os alunos, na
esperança que essas concepções de conteúdo programático e linguagem, na
prática, sirvam de proposta de articulação nos conteúdos em educação
infantil.
3 OBJETIVO GERAL
-Desenvolver
a humanização e socialização dos alunos no processo de ensino-aprendizagem das
turmas 20 e 22.
3.1 OBJETIVO
ESPECIFICO
-
Socializar para promover a integração desse alunos no processo de
alfabetização.
- Obter o
maior número de alunos com sucesso na leitura e na escrita.
4 DESENVOLVIMENTO E CUSTEIO DAS AÇÕES
A pesquisa
iniciou no ano de 2012, conforme iniciou o ano, foram sendo observadas as
crianças e tudo foi sendo registrado pela professora titular das turmas, a
autora desta pesquisa. Conforme as observações foram sendo registradas, eu
ingressei no curso do Instituto de psicologia da UFRGS/CEP-RUA, e fui
paralelamente estudando as linguagens geradoras. Todos os registros, filmagens, fotos, e
materiais utilizados foram custeados pela pesquisadora, assim como material para
pesquisa socioantropologica, tendo apoiadores a Diretora da instituição de
ensino Escola Estadual de Ensino Médio Rafaela Remião, que viabilizou que eu
ingressasse na formação continuada do CEP-RUA, e autorizou pesquisa.
Foram
utilizados até o presente momento 1.000 cópias de Xerox, 2.000 folhas de
ofício, lápis de escrever, canetas esferográficas, dois computadores, tablet
para as filmagens, câmera digital, 75 vídeos de alunos desenvolvendo
atividades, aproximadamente 3000 fotos dos alunos, internet, participação de
formação continuada, custos com locomoção, alimentação e projeto. Valor
aproximado R$ 5.000,00 reais.
5 MÉTODO
Aqui é
colocada a metodologia que será utilizada para desenvolver a pesquisa para
desenvolver o projeto.
Para
desenvolver a pesquisa qualitativa serão realizadas entrevistas em
profundidade, de natureza não estruturada, com
professores e diretores da Escola em estudo, para obter os dados para
formular o questionário quantitativo. E, numa segunda fase serão analisados e
documentados os trabalhos aplicados aos alunos das duas turmas (20 e 22),
utilizando os exemplos de possibilidades de parte cheia do planejamento, entre
os conteúdos, jogo simbólico, desenho, conflitos (indisciplina), organização da
rotina, leitura e escrita, datas comemorativas, etc.
Após a
análise do conteúdo das entrevistas, serão selecionados atributos que sugerem
ser importantes para os professores. A partir desse passo será definido o
questionário estruturado com questões.
A pesquisa
se caracteriza por um estudo de caso, de caráter exploratório e descritivo,
visando à descrição das atividades aplicadas utilizando as linguagens geradoras
na Escola. Trata-se de uma técnica de pesquisa que tem por objetivo o estudo de
uma unidade que se analisa (MARTINS, 2006).
A
utilização do estudo de caso no meio acadêmico, tem como fim:
a)
explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos;
b)
preservar o caráter unitário do objeto estudado;
c)
descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada
investigação;
d)
formular hipótese ou desenvolver teorias; e
e)
explicar as variáveis causais de determinado fenômeno (GIL, 1999, p. 54).
Nesse
sentido, Yin (2001, p. 22), diz que “os estudos de caso estão muito longe de
ser apenas uma estratégia exploratória. Alguns dos melhores e mais famosos
estudos de casos foram descritivos e explanatórios”. Assim: “segundo a
abrangência e propósitos, um estudo de caso poderá ser exploratório, descritivo
e experimental” (MARTINS, 2006, p. 11)
Em uma
pesquisa de campo, podem ser utilizados diferentes tipos de pesquisa, mas
sempre adotando aquele que melhor se enquadre nas características do estudo. Na primeira etapa da pesquisa, será adotada a
pesquisa de natureza exploratória, que serve para “[...] desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.
Este tipo de pesquisa é realizado “quando o tema escolhido é pouco explorado e
torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis”
(GIL, 1999, p. 43).
No
entendimento de Gil (2002), pesquisa é o processo racional e sistemático, com a
função de apresentar soluções aos problemas que são expostos e se faz
necessário quando não há informações suficientes para a resolução da situação
problemática.
Os dados
bibliográficos servirão de informações para maior conhecimento dos assuntos
relacionados às linguagens geradoras em relação à sua aplicação na Escola em
estudo nas turmas 20 e 22, por isso, “[...] tornam-se necessários seu
esclarecimento e delimitação, o que exige revisão da literatura, discussão com
especialistas e outros procedimentos” (GIL, 1999, p. 43).
A partir
do conhecimento obtido nesta etapa iniciaremos a pesquisa descritiva, que
servirá para analisar os resultados obtidos nessa Escola com a utilização de
Linguagens geradoras.
Entendeu-se
oportuno utilizar para o desenvolvimento deste estudo os métodos de pesquisa
exploratória e descritiva.
As
pesquisas descritivas são, juntamente com as exploratórias, as que habitualmente
realizam os pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática. São também
as mais solicitadas por organizações como instituições, empresas comerciais,
partidos políticos, etc. (GIL, 1999, p. 44).
Tanto a
pesquisa qualitativa como a quantitativa tem suas vantagens e desvantagens, o
que se deve considerar é que o método escolhido seja adequado ao questionamento
da pesquisa. O pesquisador deve encontrar e usar uma metodologia que lhe
permita chegar a um resultado que melhor contribua para a compreensão do
problema proposto.
5.1
Amostra
Nesta
pesquisa, a escolha da população será não-probalística (entrevistados serão
escolhidos). São pessoas que têm conhecimento em profundidade do
estabelecimento de ensino e do PPP, capazes de gerar indicadores de satisfação.
Como sugerido por Rossi e Slongo (1998), os participantes das entrevistas em
profundidade, serão selecionados entre a população da Escola, capazes de
discernir quanto à importância destes indicadores.
A amostra
será não probabilística por conveniência na 1ª fase, professores e diretores e,
na 2ª fase, o professor Junqueira Filho (autor de linguagens geradoras), (pais
ou responsáveis pelos alunos, em número a ser definido.
Na visão
dos autores em estudo, quando se trata de geração de indicadores, não importa
se os respondentes são experientes, ou se a literatura é atualizada, pois a
pesquisa precisa de características específicas do entrevistado.
Segundo Mattar (2001), a ideia de utilizar uma
amostra é que esta representa uma parte da população e sua análise pode
apresentar informações precisas sobre toda a população. A amostragem
não-probabilística, a seleção de quem irá compor a amostra depende do
julgamento do pesquisador.
5.2
Coleta de dados
Para a
coleta dados serão adotadas três técnicas: a pesquisa bibliográfica e
documental, entrevista em profundidade e questionário estruturado.
A pesquisa
bibliográfica é uma das alternativas mais rápidas de aprofundar um tema de
pesquisa, através de teses, livros especializados no assunto, revistas,
informações de jornais, sindicatos, órgãos governamentais, etc. (MATTAR, 2005).
A técnica
de entrevista em profundidades leva-nos a entender o sentido que o entrevistado
dá aos atributos da pesquisa, como é colocado por Roesch (2007, p. 159), tem
objetivo primário “[...] de entender o significado que os entrevistados
atribuem a questões e situações em contextos que não foram estruturados
anteriormente a partir das suposições do pesquisador”.
Além
destas duas técnicas de coleta de dados será aplicado o questionário com a
elaboração prévia de perguntas em escala de valores de um a cinco, sendo que as
alternativas apresentadas terão ligação com o grau de conhecimento dos
entrevistados sobre o tema.
De acordo
com Rossi e Slongo (1998, p. 120), a escala apresenta:
Com
cinco pontos, a escala intervalar oferece um ponto de quebra entre satisfação e
insatisfação bem definido: dois pontos extremos, um caracterizando estado
‘totalmente satisfeito’ e outro de ‘totalmente insatisfeito’, e dois pontos
intermediários, um entre o ponto de quebra e o extremo de satisfação e o outro
entre o ponto de quebra e o extremo de insatisfação. As cinco categorias
oferecem, dessa forma, alternativas para que o cliente expresse total ou
parcial satisfação, estado indefinido entre satisfação e insatisfação e total
ou parcial insatisfação.
Para Roesch (2007, p. 142) “o questionário não é
apenas um formulário, ou um conjunto de questões listadas sem muita reflexão, é
um instrumento de coleta de dados que busca mensurar alguma coisa”.
A escolha
desta técnica para a coleta de dados é por ser “[...] o instrumento mais
utilizado em pesquisa quantitativa, principalmente em pesquisa de grande
escala, como as que se propõem levantar a opinião política da população ou a
preferência do consumidor” (ROESCH, 2007, p. 142).
Serão
aplicados questionários na Escola diretamente por esta pesquisadora na primeira
fase. Para a segunda fase, serão aplicados os questionários, em número a ser
definido.
O
entrevistado será informado sobre o objetivo da pesquisa, destacando a
importância de sua contribuição para o trabalho e para os alunos.
5.3
Análise dos dados
A
apresentação dos resultados da análise dos dados será feita na forma de texto.
A partir da análise dos dados obtidos nesta etapa, será construído o
questionário para o levantamento de dados da etapa quantitativa.
Na etapa
quantitativa será realizada mediante a aplicação de um questionário, com o
objetivo de mensurar o nível de conhecimentos dos professores e diretores da
Escola, identificando os pontos positivos e negativos.
6 POR QUE LINGUAGENS
GERADORAS?
Porque
trabalho com um público completamente excluído de tudo, atendimento
especializado, assim, eu precisava fazer com que a minha aula acontecesse.
Turma 20 – turno da manhã
Na turma
20 do turno da manhã 10% dos alunos não tem pai e nem mãe, tem irmãs que
perderam a mãe de soro positivo; o pai é indigente e usuário de craque. O
próprio pai ensinou as crianças a roubar para sustentar seu vício, trocar por
drogas.
As irmãs J
8 anos e M 11 anos, retida no segundo ano. M é criada por uma tia, anda
limpa tem noções de higiene, cuida dos materiais e apresenta comportamento mais
equilibrado em sala de aula do que a irmãzinha J, a irmã J tem crises na hora
da aula, briga, faz ameaças, chora, atira as coisas no chão, briga e bate boca
comigo na frente de todos, roga pragas para as colegas, nunca tem material
escolar, mesmo que a gente dê o material, ou empreste, não cuida, anda sempre
sem condições de higiene, faz chantagens com colegas para emprestarem o
material para ela, ou ela fará algo contra o colega ou a coleguinha, é
manipuladora, e faz questão de fazer o contrário do que a professora solicita,
não realiza atividades com o grupo, faz as atividades que ela quer, senta, faz
bilhetes, desenhos, ou fica conversando durante a aula brigando com a irmã M,
tem preguiça e apresenta resistência para copiar a data, e ao realizar
atividades, só pinta os desenhos e deixa
em branco a atividade, etc.
As
atitudes indisciplinares são dificuldades apresentadas pelos alunos que
provocam dúvidas e que são de difícil solução, tornando a relação com eles
difícil e trazendo impasses nas decisões que precisam ser tomadas em sala de
aula.
Entre
os fatores que podem promover este comportamento indisciplinar estão: padrões
familiares desestruturados; pais que esperam obediência implícita; restrições
excessivas aos filhos; exigências que extrapolam os limites da compreensão;
permissibilidade exagerada, entre outros.
O aluno D,
perdeu a mãe com tumor na cabeça, não tem pai, todos os irmãos ficaram com uma
irmã, que é casada. A irmã colocou as crianças numa peça no fundo do terreno e
lá elas vivem, fazem as refeições e aprendem afazeres da casa, são três irmãos
pequenos, dois gêmeos de 9 anos, sendo que um dos gêmeos apresenta
problemas físicos, o D com 11, tem mais dois adolescentes.
D era
muito lento, e quieto, conforme o tempo ia passando fui conhecendo sua história
de vida, comecei a solicitar seus serviços, brinco que ele é meu
filho, meu braço direito, D vai na secretaria, pega materiais, de extrema
confiança, ajuda colegas, agiliza atividades, ajuda demais colegas e é
participativo, determinado, conversa, segue as combinações da sala de aula, e
dialoga com colegas em qualquer situação que quebram as combinações ele vai com
sua liderança e conversa para que sigam o correto. É um menino sensível, adora
brincar com ambos os sexos, meninos e meninas, os outros meninos agora
começaram a chamá-lo de mulherzinha porque ele realiza qualquer tarefa sem
distinções.
O aluno
RS tem convulsões, crises, no início do
ano R teve uma ataque, eu abandonei a turma e sai correndo com ele nos braços
para pedir ajuda. Foi encaminhado ao posto, está fazendo tratamento, porém o
pai não quer dar os remédios. O menino já tentou tatuar seu nome no braço
rasgando a pele com caco de vidro, ele conta e ri. Tem acessos de risos do
nada. Não quer realizar atividades regularmente, lê, escreve sozinho, mas adora
fugir da aula, apedrejar as janelas da escola, correr por corredores, brigar
com colegas, em sala de aula, só quer desenhar fazer aviões, etc. utiliza o
material para guerrear com colegas... se atividade é com tampas para contagem.
O RS faz guerras, motivo pelo qual minhas práticas ficam muito restritas,
porque R só segue combinações quando está medicado, o que atrapalha todo
desenvolvimento do planejamento.
O
aluno GG entrou no final do primeiro trimestre na minha sala de aula, veio
transferido de outra escola, foi matriculado pela avó materna, sua mãe nunca
foi vista na escola, chegou com marcas de violência física no rosto e foi
encaminhado imediatamente para o conselho tutelar e não obtivemos resposta
nenhuma até o presente momento. O menino é nervoso, apresenta comportamento
agitado, Foge da aula várias vezes para ver se seu irmão B da turma paralela,
que está bem. Nessas escapadas ele apedreja a escola, pega pedaços de pau para
bater na escola, nas janelas, quebra vidros, briga com todos os colegas, basta
olhar para ele, que começa a afirmar que o colega está provocando, que está
ofendendo a ele e sua família.
A mãe de
GG foi chamada a comparecer na escola inúmeras vezes, mas até o presente nunca
compareceu, nunca pegou boletins, nem atende telefonemas, não realiza
atividades escolares com os filhos. É hiperativo. E precisa de atendimento
especializado com urgência. Ele foge da escola, dos chamados da escola, o que
comprova o total abandono desse aluno, não fala no pai só diz que o pai foi
embora
O aluno
RB, filho de mãe solteira, desde que nasceu passou por várias cirurgias no
intestino, por vezes, evacua nas calças, em sala de aula, sujando tudo, passando
por constrangimentos. É o único aluno que usa óculos, por isso, é identificado
como “o dos oclinhos” por todos na escola, é uma criança que só quer desenhar,
pintar, recortar, apresenta comportamento afetuoso, é alegre, não tem material
escolar devido às baixas condições financeiras da mãe, a escola inúmeras vezes
forneceu lápis, caderno, e eu, os demais materiais como lápis de cor, borracha
apontador etc., ele mudou o comportamento radicalmente este ano. Em 2011 ele
era quieto e tímido, agora ele é conhecido por toda escola, briga, provoca os
alunos de séries mais avançadas como sétima série. briga provoca, parecendo não
se importar com as consequências do que vai acontecer com ele. Ele chega na
escola e de imediato pergunta se falta muito para o lanche? Não vem alimentado
para a escola e não se concentra enquanto não comer. Sonha em conhecer o pai,
porque relata que a mãe o força a fazer atividades domésticas, se não as
realiza ele apanha. Além da rejeição paterna, há rejeição da mãe que sempre que
chamada comparece a escola e participa das entregas de boletins, conversa com
professores. A mãe já foi na escola para conversar chorando que queria entregar
o aluno RB para o conselho tutelar, porque ela não queria mais ele. Alega
que não aguenta mais ele, que ela não sabe o que vai fazer...
RB
ingressou no “projeto mais educação”, fica na aula comigo na parte da manhã e
depois da aula desce para o refeitório com monitores do “mais educação”.
Apresenta melhoras consideráveis no comportamento porque fica na escola dia
todo, tem alimentação nos horários corretos, com aulas e oficinas, só vai para
casa para dormir. Está realizando temas de casa e não se envolve mais em
confusões (eu sinto como um filho da escola, quando ele batia nos maiores e
provocava, todos os maiores o ensinaram, acolheram, brincaram com ele ao invés
de espancá-lo. O RB eu vejo como filho da escola).
O aluno VL
é falante, não sabe falar baixo, grita, realizava atividades como um copista
porque não conhecia as letras, não sabia o som das letras, não conseguia pensar
sobre o som das letras e muito menos ler palavras simples, embora já seja um
aluno retido no segundo ano varias vezes. Conversa, não respeita regras de
convivência, não sabe ouvir. É criado pelo avó materno, começou a ler esse ano comigo, a partir de
agosto.
A
reflexão pode tornar-se em inovação abrindo espaço para a construção de novas
práticas e competências, não ficando só no saber – analisar, mas que leve a
tomar consciência do que se faz.
Com esse
público em sala de aula o ano letivo começou e eu não sabia como fazer para
realizar atividades com uma turma com alunos tão diferentes e principalmente
diferentes da turma 22 da tarde.
Turma 22 – turno da tarde
A
turma 22 é fantástica, pais presentes, filhos de famílias estruturadas com pai
e com mãe, todos tem material, fazem tarefas, são agitados, mas consigo
trabalhar tudo que eu planejo.
São filhos
que o pai e a mãe trazem para leva-los de volta para casa ao final do período,
são filhos desejados, acompanhados pelos pais.
Participam,
são alegres, brincalhões, tudo que levar é bom, qualquer material pode ser
trabalhado com eles.
Nessa turma da tarde tenho uma aluna que foi
violentada pelo pai (ela e a outra irmã e um irmão de 4 anos).
Foi comprovado o abuso, ele foi preso, e saiu da cadeia. A menina está
sendo criada por uma vizinha de uma tia materna. Foi uma criança que desde o
início do ano só me olhava, não fazia nada. Ela, agora, adora me ajudar, fica paradinha do meu lado
encostadinha em mim ou parada bem na minha frente. Corre para me dar a mão
sempre quer ser a primeira da fila para poder me pegar na minha mão. Não
realizava nenhuma atividade e eu deixava até que comecei aos poucos a designar
tarefas, ir na secretaria, arrumar meu armário, cuidar da minha chave e ela foi
se soltando, já realiza atividades, participa e observo que ela agora brinca no
grupo. Ela se socializou, ri, faz brincadeiras de crianças, ela não tem mais o
olhar parado catatônico.
Conforme o
tempo vai passando ela está melhorando mais e mais em sala de aula e ingressou
no “mais educação”. Ela chega na escola de manhã, tem aulas à tarde comigo, se
encontra com a irmã mais velha, porque alem de todos os percalços da vida de J,
elas foram violentadas, a mãe as abandonou para voltar a viver com o pai delas,
depois que ele saiu da cadeia, com isso
as meninas foram separadas, moram em casas diferentes, perto, mas foram
separadas.
O
aluno JM tem problemas neurológicos, foi
atropelado, não lê, copia, tem uma letra maravilhosa, está retido no segundo
ano, pinta, não vem sempre na aula, furta merenda dos pequenos, tem muita fome.
Não assume seus delitos. não ajuda em sala, não boas condições de higienização.
O
aluno LF é sorridente, e iniciou o ano com gritos e agitava-se com movimentos
repetitivos, sacudia-se ajoelhado em cima das classes, segurando a janela -
gritava - emitia sons ao ver caminhões. É um menino afetuoso. Respeitador,
responde a chamada, é especial, sem avaliação e diagnóstico médico. Eu trabalho
com o LF as linguagens geradoras e ele corresponde às minhas expectativas. Ele
só fazia bolinhas no caderno dele, bolinhas, bolinhas e bolinhas. Só pintava de
uma mesma cor. Eu o coloco sempre sentado ao meu lado, já pinta colorido sempre
com giz de cera, ele ama giz de cera, ele cuida do material, empresta e sabe
esperar o colega terminar de usar e já pega o que é seu de volta, não grita
mais, não sai mais correndo e gritando pelos corredores... responde a chamada,
participa de toda a aula e respeita as regras e convivência. Segue a rotina. É
criado pela mãe que trabalha no lixão. Solicitei encaminhamento de “vou a
escola”, cartão para ônibus e bolsa família.
Do LF
tenho fotos, assim como das duas turmas, vídeos dele realizando atividades,
iniciando a ler fazendo educação física, se socializou e participa de
atividades em grupos.
Trabalho
há um ano com esses dois tipos de turmas, completamente diferentes, mas com
resultados positivos e altos níveis de aprendizado altos índices de aproveitamento, isso é o que importa porque como ensina o
professor Junqueira Filho, temos que ler o aluno, a realidade de cada turma, e
a partir dessa leitura fazer o planejamento, escolher a parte cheia, para que
eles possam produzir e preencher a parte vazia deles para vida no agora.
Conhecendo
a realidade de cada aluno, foi que me levou a elaborar este projeto para
desenvolver uma pesquisa que retrate a realidade dessa escola e dos alunos que
estou alfabetizando.
7 RESULTADOS
ESPERADOS
Os
resultados esperados não são restringidos apenas a leitura e escrita dos alunos
em questão, com resultados negativos do processo de alfabetização, com
comportamentos comprometidos negativamente devido ao seus contextos familiares. Os resultados esperados são
abrangentes, que todos que passaram pelo processo humanizador, se socializem e
despertem interesse em aprender, que tenham princípios bem desenvolvidos,
valores humanos, éticos e pessoais.
Que o
processo seja significativo e a posteriori exteriorizados na prática cotidiana
de cada aluno, resultante de uma mudança benéfica comportamental, tornando-os
mais dóceis e sociáveis, sem expressar tanta raiva, ódio, sem ter tanto desejo
de guerra, e destruição, sem que a turma 20 chegue no refeitório e ao invés de
fazer guerra de frutas, sente e desfrute de uma agradável refeição como a turma
22, Que valorizem a alimentação, bem como todos os objetos da escola e qualquer
lugar onde eles possam ir. Aculturando-se da agressividade, sem revoltarem-se
tanto pelo que não tem, mas valorizando o que eles tem acesso. E que
conversando se constrói o entendimento, sem violência.
8 INDICADORES
Os
indicadores são os índices que foram avaliados durante o decorrer do ano de
2012, como leitura e escrita e sociabilidade. Devido aos altos índices de
alunos sem conhecer o alfabeto, vogais, consoantes, sem saber escrever os
próprios nomes, me interessei em observar, registrar e avaliá-los, sondando a
realidade e histórico de cada um, investigando as causas de índices tão altos
de dificuldade de desenvolvimento no processo de alfabetização, porque eles
chegaram ao segundo ano, sem conhecer as letras do alfabeto, e de modo geral
alguns conheciam bem as letras, mas não liam, eram apenas copistas, olhavam o que
os colegas estavam realizando iam e faziam a mesma coisa; sem saber o que
estava fazendo.
Então
comecei a avaliar e fazer levantamentos, através de trabalhos avaliativos,
quantos alunos não sabiam ler, quantos alunos não sabiam escrever, e quantos
alunos sem desenvolvimento de uma sociabilidade satisfatória para conviver em
grupo.
Durante a
pesquisa foi possível conhecer a realidade dos alunos, suas dificuldades e
alguns interesses, na turma 20 ao iniciar o ano tinha uma turma de 38 alunos
com dois infrequentes e 32 frequentes, sendo que os demais foram transferidos
ao longo do ano. Desses 34 alunos sendo, G. R. retido no segundo ano, por ser
infrequente no ano de 2011, e aluna Y. B. S. que não conheço, nunca foi nas
minhas aulas. Foi encaminhada a orientadora educacional todos os
encaminhamentos dos alunos infrequentes, assim como os que apresentavam
problemas de aprendizagem, comportamental, etc. Sendo que meus alunos nunca
foram submetidos a testagens, somente um encaminhamento do meu aluno L.F.L.. foi
realmente realizado para psicopedagoga. Em junho/2012. Os demais nunca
obtiveram resposta nem do conselho tutelar, conforme me foi informado pela
orientadora educacional da instituição de Escola de Estadual de Ensino Médio
Rafaela Remião.
A turma
20, compostas por 32 alunos frequentes e dois ausentes e 4 alunos transferidos,
iniciou o ano letivo com 1% dos alunos lendo e escrevendo, com graves problemas
de socialização que se acentuaram até agosto.
E a turma
22 iniciou o ano letivo de 2012 com 2% dos alunos lendo e escrevendo. Uma turma
agitada com alunos muito participativos e rápidos na realização das atividades.
Ao final
do ano como se pode observar no gráfico acima, a turma 20 atingiu 50% dos
objetivos em leitura e escrita. Logo, 22 alunos dos 32 frequentes estão
alfabetizados, escrevendo e lendo como constam em registros e vídeos dos alunos
lendo e escrevendo.
A turma 22
é composta por 34 alunos, sendo que desse 34 alunos somente um aluno é
infrequente, J. M. sendo um aluno retido anteriormente no segundo ano, já tinha
problemas e ingressou na escola com idade avançada, porque sofreu acidente,
teve traumatismo craniano e por isso ingressou no primeiro ano atrasado e
consequentemente no segundo também, é um aluno “copista” efetua cópias, mas não
sabe o que está realizando, não lê e não escreve sozinho.
Tenho o
aluno L.F. L. que é frequente iniciou o ano somente fazendo bolinhas, não tem
acompanhamento especializado. Foi encaminhado diversas vezes, chegou a
frequentar a psicopedagoga e a família não deu continuidade nas visitações na
psicopedagoga.
A aluna J.
P. R. violentada, apresenta várias dificuldades de atenção e não lê e não
escreve por não ter acompanhamento especializado, que por mim já foi solicitado
inúmeras vezes a Orientadora educacional da Instituição de Ensino Escola
Estadual de Ensino Médio Rafaela Remião.
Com esses
alunos, o meu trabalho foi completamente diferenciado, e obtive avanços com o
L. F. L. que já consegue pintar com diversas cores, não faz só bolinhas,
consegue fazer um X, ou cruz. E
apresenta um comportamento mais sociável, não grita pelos corredores, não fica
em pé nas classes, não fica só olhando
pela janela, senta e participa, responde a chamada, organizado com materiais
dele, e não é mais tão agressivo. Nas aulas de educação física o L. F. L. não
participava das atividades com o grande grupo ele corria livremente pelo pátio
da escola. E agora já participa das atividades em grupo, bem integrado e
interagindo com interesse no que está fazendo.
9 CRONOGRAMA
As
atividades foram sendo realizadas durante o ano de 2012 de acordo com
cronograma abaixo:
PRIMEIRO TRIMESTRE/2012
DESENVOLVIMENTO E AÇÕES/ MÊS
|
MARÇO
|
ABRIL
|
MAIO
|
JUNHO
|
AVALIAÇÃO DA LEITURA
|
X
|
X
|
X
|
X
|
AVALIAÇÃO DA ESCRITA
|
X
|
X
|
X
|
X
|
ENCAMINHAMENTO PARA ATENDIMENTOS
ESPECIALIZADOS
|
X
|
X
|
X
|
X
|
ANÁLISE DADOS E LEVANTAMENTO
|
X
|
X
|
X
|
X
|
OBSERVAÇÕES
|
X
|
X
|
X
|
X
|
COLETA DE DADOS POR MEIO DE FOTOS
E VÍDEOS
|
X
|
X
|
X
|
X
|
CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA CEP
–RUA/ INSTITUTO DE PSICOLOGIA
|
|
|
X
|
X
|
ESTUDO DAS LINGUAGENS GERADORAS
|
|
X
|
X
|
X
|
INTRODUÇÃO DAS LINGUAGENS
GERADORAS NAS TURMAS
|
|
|
|
|
PESQUISA SOCIOANTROPOLOGICA
|
|
|
|
|
LEITURA DE REFERÊNCIAL TEÓRICO
|
|
X
|
X
|
X
|
ELABORAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA
|
|
|
|
|
SEGUNDO TRIMESTRE/2012
DESENVOLVIMENTO E AÇÕES/ MÊS
|
JULHO
|
AGOSTO
|
SETEMBRO
|
OUTUBRO
|
NOVEM-
BRO
|
DEZEM-
BRO
|
AVALIAÇÃO DA LEITURA
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
AVALIAÇÃO DA ESCRITA
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
ENCAMINHAMENTO PARA ATENDIMENTOS
ESPECIALIZADOS
|
X
|
|
|
|
|
|
ANÁLISE DADOS E LEVANTAMENTO
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
OBSERVAÇÕES
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
COLETA DE DADOS POR MEIO DE FOTOS
E VÍDEOS
|
X
|
X |
X
|
X
|
X
|
X
|
CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA CEP
–RUA/ INSTITUTO DE PSICOLOGIA
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
ESTUDO DAS LINGUAGENS GERADORAS
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
LINGUAGENS GERADORAS NAS TURMAS
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
PESQUISA SOCIOANTROPOLOGICA
|
|
|
|
|
X
|
|
LEITURA DE REFERÊNCIAL TEÓRICO
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
X
|
ELABORAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA
|
|
|
X
|
X
|
X
|
|
Escrita da pesquisa durante o ano de 2013/2014.
10
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo
de alfabetização demanda escolhas por parte do professor. Ele deve decidir qual
será sua modalidade de abordagem da língua e determinar a escolha do método de
alfabetização que irá utilizar. A fase seguinte consiste na escolha da sua
postura diante da realidade dos alunos que irá alfabetizar - a realidade
linguística a realidade de cada turma, e a partir dessa leitura fazer o
planejamento para que eles possam produzir e preencher a parte vazia deles para
vida.
A
infindável lista de conhecimentos necessários para uma alfabetização plena não
é abrangida em nenhum dos cursos superiores de forma suficiente, por isso estou
aceitando o desafio de aplicar as linguagens geradoras que tem demonstrado
resultados positivos no meu cotidiano escolar.
Creio
também que é hora de se implementar uma política institucionalizada de
alfabetização que abranja desde a formação dos alfabetizadores até a seleção de
profissionais especializados para o exercício dessa profissão, que é a mais
importante fase da educação de qualquer pessoa. Que as formações continuadas na
qual frequento me qualificou ainda mais para desempenhar minha função com
qualidade e eficiência, alcançando os objetivos propostos durante o ano de
2012.
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5 ed. São Paulo: Atlas,
1999.
_______. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
JUNQUEIRA FILHO, Gabriel de Andrade. Linguagens geradoras e formação de
professores em educação infantil.
______. Linguagens geradoras – uma proposta de seleção e articulação de
conteúdo em educação infantil.
______. Linguagens geradoras: seleção e articulação de conteúdos em
educação infantil. Porto Alegre: Mediação, 2005.
_______. Interdisciplinaridade: o
professor e suas múltiplas linguagens. In: FAZENDA, Ivani (ORG.). Interdisciplinaridade na formação de
professores: da teoria à prática. Canoas: Editora da Ulbra, 2006.
MARTINS, G. A. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2006.
MATTAR, N. Pesquisa de Marketing. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001; 2005.
PEIRCE, C.S. Semiótica. 2.
ed. São Paulo: Perspectiva, 1995
ROESCH, S.M.A. Projetos de estágio do curso de administração: guia para estágios,
trabalho de conclusão, dissertações e estudo de caso. 3 ed. reimpr. São Paulo:
Atlas, 2007.
ROSSI, C.A.V.; SLONGO, L.A. Pesquisa
de satisfação de clientes: o Estado-da-Arte e Proposição de um Método
Brasileiro. RAC, v. 2, n. 1, jan./abr.
1998.
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